quarta-feira, 11 de setembro de 2013

OPINIÃO: O QUE FICOU DAS "JORNADAS DE JUNHO"?


Nunca é demais lembrar que a imprensa brasileira, durante as primeiras manifestações contra o aumento da passagem em São Paulo, em uníssono, condenou a ação dos manifestantes e exigiu mais repressão. Foi só com a massificação das mobilizações e o surpreendente apoio das massas aos protestos que a mídia modificou sua linha e passou a "defender" os atos de rua. Evidentemente, esse apoio foi acompanhado por um discurso que tentava extrair o conteúdo crítico das reivindicações e reduzi-las em algo completamente inofensivo ao regime.
Três meses após as massivas mobilizações de Junho, os mesmos setores conservadores da mídia que exigiam mais repressão, e que num segundo momento cinicamente mudaram de opinião, levam a frente uma verdadeira campanha de deslegitimação das ações e mobilizações convocada pelos organizações sindicais durante os meses de Julho e Agosto. Alguns, como o jornalista e colunista do Estadão, José Nêumanne Pinto, chegam a prognosticar o fim das jornadas de Junho. Em artigo publicado no Estadão no dia 11/09 o jornalista prega que as mobilizações do dia 7 de setembro foram esvaziadas, com violência gratuita (Black Block) e, desse modo, comprovariam o "fim de Junho". Nêumanne não é o único que pretende decretar a morte das jornadas de Junho. A linha editorial dos principais periódicos do país faz um esforço hercúleo para tentar mostrar as mobilizações operárias que ocorreram nos dias 11 de Julho e 30 de Agosto como ações fracas, deslocadas e sem qualquer relação com as mobilizações de Junho. Definitivamente, esse esforço da mídia e dos setores conservadores em separar as mobilizações de massas das ações operárias de Julho e Agosto é um claro indicativo do enorme receio que os grandes empresários têm da explosiva e potente aliança entre os trabalhadores, a juventude estudantil e setores da classe média empobrecida. Como veremos, a posição da mídia brasileira não tem qualquer lastro com a realidade.  

As mobilizações de 11 de Julho e 30 de Agosto como parte das "Jornadas de Junho"

As "jornadas de Junho" foram decisivas para que os trabalhadores, de forma organizada, também entrassem em ação com seus métodos de luta tradicionais. O dia 11 de Julho, dia nacional de mobilização convocado pelas Centrais sindicais e movimentos sociais, sacudiu o país com paralisações de importantes categorias, fechamento de rodovias e avenidas e ocupações de prédios públicos. Dizemos que as jornadas de junho foram cruciais para a realização dessa mobilização, pois a indignação que tomou conta do povo se alastrou para dentro das fábricas e empresas. Nas panfletagens e agitações nas portas das fábricas para construir os dias de mobilização e paralisação era possível perceber uma crescente indignação e uma maior disposição à luta. A pressão da base foi determinante para que as burocracias sindicais (CUT e Força Sindical), avessa às lutas, se incorporassem nas mobilizações. 
O dia 30 de Agosto, dia nacional de paralisações, também foi mais um exemplo de que os ventos de Junho ainda sopravam nos fins de Agosto. Importantes batalhões da classe operária e inúmeros setores do funcionalismo público cruzaram os braços para reivindicar mais investimentos nos serviços públicos, fim das terceirizações, redução da jornada de trabalho e fim do fator previdenciário. Milhares de metalúrgicos de São José dos Campos paralisaram suas atividades. A paralisação também foi forte na baixada santista e em setores da Construção Civil de Belém e Fortaleza. A CSP-Conlutas, mostrando que vem ganhando cada vez mais espaço diante da falência das velhas centrais pelegas, garantiu sozinha a paralisação em muitas categorias nas regiões do Sul ao Nordeste. A mobilização poderia ter sido muito maior se não fosse o boicote e a apatia da CUT e da Força Sindical. Essas Centrais assinaram a convocatória unitária, mas na hora H, satisfeitas com as migalhas e falsas promessas do governo, se ausentaram da luta ou fizeram muito pouco. 
De todo modo, o dia 30 de agosto mostrou uma forte disposição de luta em muitas categorias. Em alguns setores da classe trabalhadora a data serviu para dar largada em fortes campanhas salariais. Foi o caso da Construção Civil de Belém, onde os operários, após uma paralisação e uma grande assembleia no dia 30, deram início a uma greve que durou nove dias e, enfrentando uma patronal dura e extremamente conservadora, conseguiram um reajuste salarial com ganhos reais. No dia 30 de agosto também vimos alguns casos importantes de questionamento às direções sindicais pelegas ou apáticas. Diversas categorias obrigaram seus sindicatos a chamar a paralisação. Exemplo disso foi o caso de algumas fábricas do setor Químico da região de Osasco, onde o sindicato, que não vinha construindo a paralisação, foi obrigado a realizar uma assembleia (com atraso da entrada) e aprovar indicativo de greve na segunda maior fábrica do setor.
A juventude também participou ativamente das mobilizações de Julho e Agosto. A Assembléia Nacional dos Estudantes-Livre (ANEL) organizou milhares de estudantes em todo o país em apoio às ações dos trabalhadores e manteve de pé uma campanha nacional pelo passe livre já!. A entidade organizou atos, trancaços e dezenas de ocupações de Câmaras de Vereadores. Essas ações criaram condições reais de alcançar o passe livre em alguns lugares. Na juventude, além das ações realizadas pela ANEL, tem ganhado força a luta contra o genocídio do povo pobre e negro. A pergunta "Cadê o Amarildo?" tomou as ruas e as redes sociais mostrando que a juventude já não vai mais aceitar passivamente a violência policial nos morros e favelas.

O 7 de setembro, quando os governos e os conservadores tentam instigar o sentimento patriótica, também foi mais um exemplo de que a indignação de amplas camadas da população segue muito forte. Ainda que os atos estiveram longe de alcançar o mesmo patamar de Junho é preciso destacar que houve um importante crescimento dos tradicionais atos (grito dos excluídos) que a esquerda costuma realizar na data. Os governos Federal, Estadual e municipais responderam com muita repressão os protestos no dia da "independência". Foram mais de 300 pessoas presas em todo o país. 
É um fato que não vivemos mais a mesma conjuntura que se abriu com os massivos protestos que cobriram as ruas do Brasil. As mobilizações não tem a mesma massividade. O governo, inclusive, tem uma ligeira recuperação na percentagem de sua popularidade. Entretanto, nos parece que seria extremamente equivocado, como faz os analistas da burguesia, acreditar que as Jornadas de Junho tenham sido completamente dissipadas ou mesmo que estas não tenham deixado nada de significativo. A indignação e disposição de luta segue relativamente forte em muitas categorias de trabalhadores e nos setores estudantis (secundarista e universitário). O papel traidor das burocracias sindicais e dos setores governistas no movimento popular, justamente quando as massas mais precisam de suas ferramentas de luta, tem proporcionado, no mínimo, um revigoramento no processo de reorganização sindical, estudantil e popular. A CSP-Conlutas e ANEL têm ganhado muito respaldo nas bases operárias e estudantis, respectivamente. 
É responsabilidade de cada ativista sindical, estudantil e popular, assim como de todos aqueles que não pretendem deixar apagar a chama das mobilizações de Junho, seguir e auxiliar esse processo de reorganização. Nos dias 4, 5 e 6 de Outubro daremos mais um importante passo no processo de reorganização. Nessa data será realizado o I Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta (MML), movimento de mulheres filiado a CSP-Conlutas. Fazemos um convite especial a todas as mulheres, trabalhadoras e estudantes, para participarem do encontro. Os companheiros homens estão convocados a ajudar na construção do Encontro em seus locais de trabalho e estudo.  A construção de um grande movimento de mulheres classistas, que esteja na vanguarda da luta contra o machismo e por direitos e salários iguais, é indispensável para avançar no processo de reorganização e, sem dúvida, uma vitória para todo o conjunto da classe trabalhadora.