Na semana passada foi realizada a “calourada” da UNESP
Franca. Em quatro dias de debates centenas de estudantes ingressantes e
veteranos acompanharam as mesas sobre crise econômica, cotas raciais, acesso e
permanência estudantil e criminalização dos movimentos sociais. Durante toda a
semana o anfiteatro permaneceu lotado com muitos calouros acompanhando os
debates com muita atenção e também participando das palestras através de
intervenções, perguntas e colaborações ao debate.
Já na Segunda (04/03) mais de 300 estudantes acompanharam
o debate sobre a crise econômica e seus reflexos na sociedade. Simone
Ishibashi, socióloga e membro do conselho editorial da revista Estratégia
Internacional, compôs a mesa com os professores José Fernando (serviço social)
e Elizabeth Sanches (relações internacionais). Os professores destacaram o
potencial da crise para gerar mudanças de valores e também como os setores
financistas são justamente os que mais lucram com essa. Simone explicou que “a
crise econômica internacional, com seus desdobramentos sociais e políticos,
sobretudo, com as mobilizações da primavera árabe e os duros combates levados à
cabo pela classe operária e a juventude européia, com destaque para a Grécia e
Espanha, mostram a falácia dos concepções teóricos reacionárias que advogavam a
idéia do fim da história e das lutas sociais e a vitória histórica do
capitalismo.” A socióloga, que também é dirigente da Liga Estratégia
Internacional (LER-QI), encerrou sua intervenção mostrando que o “Brasil não
está imune aos efeitos da crise e que as áreas sociais, sobretudo a educação,
serão atacadas pelos governos e empresários para garantirem seus lucros.” E concluiu
convidando “os estudantes para se organizarem e construírem um movimento
estudantil combativo e aliado aos trabalhadores para frear os ataques dos
grandes capitalistas”.
Na terça e na Quarta, também com o anfiteatro lotado, os
estudantes acompanharam o debate sobre cotas e permanência estudantil,
respectivamente. Os debates auxiliaram os estudantes ingressantes a refletir
sobre a importância de questionar as formas de acesso à universidade e o caráter
elitista e racista desta. O destaque ficou com a intervenção da companheira
Maira, estudante de serviço social, que relatou a luta pela moradia e pela
permanência estudantil na Unesp Franca e denunciou a completa omissão da direção
da faculdade e da reitoria da universidade para garantir condições de estudo
para as pessoas portadoras de necessidades especiais.
Por fim, na Quinta Feira (07/03) foi realizado o debate
sobre a criminalização dos movimentos sociais. Essa foi uma das mesas mais
aguardadas, pois na UNESP Franca, como exemplo da criminalização das lutas
sociais, 31 estudantes estão sofrendo com repressão e perseguição da direção
depois que realizaram um ato com de 250 pessoas para repudiar a presença de
figuras (D. Bertrand e Sepúlveda) homofóbicas, racistas e que fazem a defesa pública
de milícias para assassinar sem terras.
A mesa foi composta pela professora e feminista Lola Aronovich,
por Anselmo, estudioso e militante LGBT e por Domenico, diretor do Sindicato
dos trabalhadores da USP (SINTUSP). Também compuseram a mesa dois companheiros
representando o grupo dos 31 estudantes sindicados e perseguidos pela direção
da UNESP Franca.
Lola relatou a luta do movimento feminista e a repressão
e os ataques dos setores conservadores aos direitos das mulheres. Anselmo focou
numa intervenção para a formação em relação a temática LGBT, desconstruindo
valores e preconceitos e apresentando dados da gritante violência contra os
homossexuais. Domenico relatou a luta dos estudantes, funcionários e
professores da USP contra a repressão do reitor João Grandino Rodas. Explicou
que o governo do Estado de São Paulo, por via do Ministério Público, denunciou
72 estudantes por crime de manuseio de explosivos, depredação e formação de
quadrilha. Além disso, denunciou que os membros do SINTUSP são vitimas de inúmeros
processos administrativos e criminais por lutarem em defesa da universidade pública.
Para Domenico “a situação internacional, com crises e convulsões sociais em
outros países, coloca a necessidade da burguesia e do governo brasileiro se
preparar e lançar uma ofensiva contra os setores e movimentos que resistem aos
ataques econômicos e sociais. Os assassinatos de lideranças do MST, o uso de
militares contra os operários em greve nas obras do PAC e dos estádios para a
Copa e a violência militar contra o movimento estudantil, como na USP e
recentemente na UFMT, mostram a necessidade de organizar uma grande Campanha
nacional contra a repressão aos lutadores e contra a criminalização dos
movimentos sociais.” Ativistas que acompanhavam o debate no plenário lembraram
a repressão policial sistemática que sofrem a população pobre e negra das
periferias brasileiras. Os dados oficiais de mortes causadas pela polícia
brasileira mostram que há um verdadeiro genocídio em curso contra os pobres e
negros do Brasil.
A semana do calouro em Franca foi, sem dúvidas, um
importante espaço de discussão, formação teórico/política e organização das
lutas do movimento estudantil. Desse modo, os estudantes de Franca dão um
importante passo para reorganizar um movimento estudantil combativo, aliado aos
trabalhadores da cidade e que terá força não só para barrar a perseguição e
repressão da direção da faculdade, mas também terá força para lutar por uma
universidade realmente pública, gratuita e a serviço das necessidades dos
trabalhadores e do povo pobre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário