segunda-feira, 1 de julho de 2013

DEFINITIVAMENTE, HÁ ALGO DE NOVO EM NOSSO PAÍS...



O cenário é o vagão do trem que parte da estação Itapevi. Centenas de milhares de trabalhadores passam todos os dias por ali. Saem bem cedo dos bairros periféricos e cidades dormitórios para seus respectivos trabalhos em Barueri, Osasco e São Paulo. O Trem balança um pouco e o povo se espreme e se empurra. As pessoas são transportadas como gado. Não há o ferro quente do estábulo, mas é perceptível que o trabalho pesado diário e ininterrupto marca suas peles.
O relógio marcava oito e meia. Uma senhora, com "o rosto abatido pela vida dura", aparentando uns 70 anos, pergunta a outro senhor, "com o rosto humilde e a pele escura", se aproximávamos da estação de Carapicuíba. Ela explicava, em meio a uma respiração ofegante, que estava atrasada. Precisava chegar 9:30 no "sanatório" desta cidade para buscar alguns remédios. Mas o trem ia lento e cada vez mais se  transbordava de pessoas. Não havia mais lugares disponíveis. Suas pernas, então, tinham que aguentar mais alguns minutos em pé. Lá fora os patrões, executivos e altos gerentes também vão para as empresas... em seus carros luxuosos, espaçosos e com aquecedores para amenizar a neblina fria que cobre a região da grande São Paulo. Sim, o mundo é bem diferente "da ponte pra cá".
No trem alguns aproveitam os minutos que restam antes da chegada para cochilar, outros falam do jogo da seleção brasileira. Tudo parecia como mais uma segunda-feira comum em um vagão comum. Então, como se não conseguisse mais aguentar sua angústia, aquela senhora vira-se para o seu novo colega de trem e diz, com um voz serena, mas ao mesmo tempo ameaçadora: "Sou a favor dos protestos. O governo nos trata como cachorro. Os hospitais estão caindo aos pedaços!" O senhor concordou com um aceno com a cabeça. Com certeza aquela senhora, cujos longos anos da vida provavelmente foram dedicados ao trabalho e ao sustento da família, não era favorável aos atos de depredação e violência gratuita. Todavia, como que tentando formular uma política, ainda que na linguagem simples do povo, contra os setores da direita que tentam dividir o movimento entre "manifestantes patriotas e pacíficos" contra os "Vândalos" ela completa: "E não adianta só ficar andando na rua não. Falam que os manifestantes são vândalos, mas se não ir pra cima e lutar forte igual eles fazem o governo não faz nada não. Nem ouve agente." O senhor, olhando aquela verdadeira "tribuno do povo", mais uma vez concordava.
Essa senhora, anônima, cujo nome jamais saberemos e que, provavelmente, não voltaremos a ver, era um exemplo vivo, de carne e osso, que os altos índices de popularidade que o governo detinha até então, alimentados por alguns tímidos programas sociais, não significava uma carta em branco do povo para a precarização da saúde, da educação, para a falta de moradia, a não realização da reforma agrária e tantos outros prejuízos e ataques que os governos de turno, petistas e tucanos, tem levado a frente em nosso país. Esta senhora parecia já estar farta dos ataques tucanos, mas também sabia que a estrela de outrora já não brilhava. A solução parecia claro, sobretudo após a conquista da redução da tarifa: Ir às ruas! Nos mantermos nas ruas!
Trabalhadores, pobres, jovens indignados, pessoas simples como essa senhora anônima, estão convidados a se somarem, no dia 11 de Julho, ao Dia Nacional de Luta convocado pela CSP-Conlutas, MST e outras centrais sindicais e movimentos populares. É um dia de atos nas ruas, mas também de greves e paralisações, pois "não basta apenas ficar andando". É preciso unidade e um programa operário e popular que combata os patrões e esse governo que, nas sábias palavras daquela senhora, "nos trata como cachorros". 
A "esquerda" reformista (as aspas nesse caso são fundamentais), que hoje governa o país com a burguesia, com seus militantes já acostumados aos gabinetes confortáveis e luxuosos das Câmaras de vereadores, das Assembleias legislativas, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto patina, engana, se contorce e vocifera uma bravata de "Golpe contra o governo". Soluções concretas para os problemas do povo trabalhador, nenhuma. Esses senhores ainda não perceberam que, definitivamente, há algo de novo em nosso país...  
  

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