Venho através desta carta comunicar ao conjunto dos
ativistas estudantis, sindicais e populares o meu desligamento da Liga
Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional (LER-QI). Durante os últimos
seis anos militei nas fileiras da LER-QI e, atuando no movimento estudantil e
operário, estive empenhado na tarefa de contribuir na construção de um partido
revolucionário no Brasil, instrumento histórico fundamental na luta dos
explorados e oprimidos contra os exploradores.
Entretanto, nos últimos sete meses venho acumulando
importantes diferenças políticas e estratégicas com a LER-QI. Lamentavelmente,
a direção dessa organização vem apostando num curso cada vez mais sectário. O
sectarismo é uma degeneração e historicamente cumpriu um papel nefasto levando
o proletariado a inúmeras derrotas. Esse sectarismo da LER-QI fica evidente
quando analisamos a política desse grupo em dois aspectos fundamentais da
política nacional.
Em primeiro lugar, a completa omissão do grupo diante das
direções do movimento de massas, em especial ao MST. Há muito tempo a LER-QI
deixou de apoiar esse movimento contra os ataques da direita e do latifúndio e,
por outro lado, também passou a se silenciar diante dos erros e capitulações da
coordenação do MST. Ou seja, a LER-QI simplesmente passou a ignorar esse
importante “ator” social. Essa omissão consciente se arrasta a todos os outros
movimentos sociais e populares, como o MTST e outros. Desse modo, a LER-QI
passou a atuar apenas conforme os seus próprios esquemas políticos, desprezando
a complexidade, similaridades e diferenças desses movimentos. O teórico e revolucionário Leon Trotsky, em
1938, já alertava que:
“Os sectários só são capazes
de distinguir duas cores: o branco e o preto. Para não se expor à tentação,
simplificam a realidade”.[1]
O segundo aspecto que
demonstra o sectarismo da direção da LER-QI é que, se por um lado se silenciam
diante dos movimentos sociais e da questão agrária, por outro, se concentram em
críticas desproporcionais, e muitas vezes descabidas, aos principais processos
de reorganização do movimento sindical e estudantil. Para os dirigentes da LER-QI
a CSP-CONLUTAS e a ANEL, entidades que estão à frente das principais
mobilizações operárias e estudantis do país, são seus principais adversários.
Essas posições não são
apenas debates teóricos abstratos, pelo contrário, tem implicações práticas na
política. Isso é o que explica por que a LER-QI até agora não se posicionou a
respeito da realização da Marcha a Brasília que está sendo convocada pela
CONLUTAS, ANEL ANDES, FERAESP, MST e outros movimentos. Ao invés de participar
e construir esse importante processo de luta e resistência contra os ataques do
Governo Dilma a LER-QI prefere deslegitimar esses legítimos espaços de luta
pelas redes sociais. Outro exemplo surpreendente se deu em relação a heróica
greve dos operários das obras da usina de Belo Monte. Abandonados por seu
sindicato, ligado a Força Sindical, os operários iniciaram um movimento
grevista que contou com o apoio e suporte da CONLUTAS desde seu primeiro dia. Esse
apoio, com advogados, ativistas e atos, é perceptível através de um simples
acesso a página dessa Central sindical. Mesmo assim, a direção da LER-QI, uma
semana depois do início da greve (!), soltou uma nota sobre a greve exigindo
que a CONLUTAS organizasse uma campanha. Ou seja, a LER-QI, apenas para se
delimitar, exige ações que a própria CONLUTAS já vinha fazendo há uma semana.
Ao invés de apoiar a campanha em curso a LER-QI se contenta em soltar uma declaração
na sua página que a delimite da direção da CONLUTAS.
Esses exemplos refletem um
problema de ordem estratégica desse grupo e é o que explica seus inúmeros erros
táticos em distintas situações. Nesse sentido, não há qualquer possibilidade de
continuar a militância nas fileiras da LER-QI. Entretanto, mantenho minha plena
convicção no marxismo revolucionária, que em minha opinião hoje está
cristalizado no trotskismo, e na luta por um movimento operário classista que
se coloque, juntamente com os estudantes e o conjunto do povo pobre, na linha
de frente contra os ataques do governo e dos patrões, na perspectiva do
socialismo. Por ora, continuarei minha
militância através na CSP-CONLUTAS e na ANEL contribuindo para discutir e
auxiliar, pacientemente, na formação política e teórica de novos companheiros
do movimento estudantil e operário.
Rafael Borges
ex delegado de base do
campus de Franca no DCE da UNESP/FATEC
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ResponderExcluirÉ isso aí Borges, a luta revolucionária não pode ficar só no campo das idéias....
ResponderExcluirPara uma luta revolucionária é preciso dialogar com as base...
Boa sorte nessa sua nova caminhada..
Tony Rocha