sexta-feira, 31 de agosto de 2012

CRÔNICA DE UMA TERÇA-FEIRA DE LUTA!


Enquanto uma multidão colocava para fora da universidade pública uma excrescência de homem autointitulada “príncipe herdeiro” era impossível não vir a sua cabeça as imagens de quando havia ingressado na universidade e tudo o que presenciou desde então. Lembrava que já na primeira semana de aula se aventurou a viajar para Brasília para participar da Marcha Nacional pela Reforma Agrária do MST. Sabia que a concentração de terras, que vinha de séculos no Brasil, era um câncer que impedia que milhões de trabalhadores pudessem trabalhar e cultivar seu próprio alimento. Mas não podia imaginar como as coisas se davam por dentro. Na sua cabeça ficou marcado para sempre a solidariedade entre os camponeses pobres que estavam há dias viajando à pé para Brasília. Um dos trabalhadores, com as mãos que indicavam longos e duros anos trabalhando na lavoura, lhe ofereceu sua marmita, pois sabia que aqueles estudantes, vindos de Franca, estavam ali para apoiá-los, para conseguir a reforma agrária “na lei ou na marra”. Para conseguir o tão esperado pedaço de terra que os latifundiários, assim como seus antepassados senhores das capitanias hereditárias, negavam ao povo.

Lembrou-se das viagens ao munícipio de Colômbia. A estrada repleta de buracos e com treminhões passando a toda velocidade. Valia a pena, pois eram tardes de formação política junto a trabalhadores sem terra de um movimento chamado OITRA, a maioria formada por ex-cortadores de cana da região. O que fazíamos era muito pouco, mas havia uma sensação de dar uma “pancada” nos latifúndios da região de Barretos. Lá não há só rodeios, botas e “agroboys”. Há, sobretudo, milhares de homens e mulheres que trabalham 8, 9, 10 ou 12 horas por dia sob o sol, às vezes sem receber, às vezes sofrendo acidentes, para enriquecer algum usineiro.
Em seguida, veio a mente a imagem de quando um operário da construção civil, que há pouco participara de uma duríssima greve contra as grandes construtoras de fortaleza e começava a dar seus primeiros passos na política revolucionária, veio lhe elogiar sobre uma intervenção no Congresso da central sindical Conlutas em Minas gerais dizendo: “Você está certo. Não podemos apoiar a polícia, ela só serve para reprimir a peãozada quando saem à lutar por seus direitos. Eu vi isso na última greve”.

Jamais poderia esquecer-se das madrugadas em claro para organizar a campanha contra a demissão de sapateiros. Foi onde conheceu os bairros de Franca. Um município onde a sede de lucros dos patrões das fábricas de calçados coloca uma disjuntiva para os jovens da cidade: oito horas infernais em frente a uma máquina para produzir sapatos para madames ou a criminalidade. Mesmo assim conheceu sapateiros, um em especial, que são incansáveis. Acordam de madrugada, trabalham durante todo o dia e ainda há disposição para organizar a resistência de nossa classe, trazer novos companheiros para a luta, levar cultura para a periferia.

Pensou também nas terceirizadas da limpeza USP. Foram humilhadas e desrespeitadas pela empresa prestadora de serviços e pela reitoria da USP. Não abaixaram a cabeça. Essas mulheres, outrora invisíveis, agora organizavam a luta. Escancaram a podridão dessa corja de burocratas acadêmicos que administram as universidades públicas e mostraram que a terceirização é uma verdadeira escravidão do século XXI.
 Naquela terça, quando passava pelos portões da UNESP, não podia deixar de pensar no contraste visível entre a sua sala de aula no curso de Direito e do galpão onde trabalhava como operador de telemarketing. Nas salas, um ou dois negros entre dezenas laptops, Tablets, ipod´s e alguns sorrisos de quem ainda está por descobrir o Brasil. No galpão centenas de pessoas que já descobriram esse país há algum tempo, na sua maioria mulheres, negras e homossexuais que passavam oito horas por dia sofrendo assédio dos chefes para no final do mês conseguir 700 reais e, claro, enriquecer alguma multinacional que vendia suas “bugigangas”.
Quando voltou a si se deu conta que o “príncipe herdeiro”, com todo seu ódio contra os trabalhadores, contra os sem terras, contra os negros, contra os homossexuais, tinha sido colocado para fora da universidade. Mais tarde pensou: Será que alguém pode achar ruim ter um sujeito como esse fora das dependências da faculdade? Sim, existem essas pessoas. Na UNESP Franca elas gritam, clamam pela expulsão do MST da Universidade. Fazem mil apelos contra a LER-QI. Algumas mais insanas chegam a falar que se trata do PT. Mas, felizmente, esses indivíduos da UNESP Franca, que ainda estão por descobrir o Brasil, são apenas perfis de Facebook. Lá na rede social eles exercem seu “Jus Sperniandi”. Não nos enganemos, essas pessoas estão corretas e no seu direito. Apenas defendem seus privilégios de classe. Nenhuma das classes fundamentais da História, ou aliada delas, saiu de cena sem resistir. O clamor por repressão que alguns colocam no facebook é o grito que estava preso na garganta de alguns unespianos. Nada foi criado. As máscaras apenas caíram.
As 200 pessoas, entretanto, que se reuniram na assembleia de ontem (30/08) mostraram em alto e bom som que não há vacilação, não há medo, não há divisões. O movimento segue forte. Os apoios não param de chegar de todo o Brasil. Os partidos de esquerda, os sindicatos, os trabalhadores da cultura, os que lutam por reforma agrária, os que lutam contra o trabalho escravo no século XXI, os que lutam contra a impunidade aos torturadores da ditadura, os que lutam pela efetivação dos direitos humanos, os que lutam pela liberdade para exercer sua sexualidade, os que lutam pelo princípio da dignidade da pessoa humana, não permitirão repressão aos lutadores da UNESP Franca, não permitirão que grupelhos de extrema-direita triunfem

Então, ele pensou: Sim, valeu a pena!

SINTUSP APOIA O MOVIMENTO ESTUDANTIL DE FRANCA. O APOIO CRESCE CADA VEZ MAIS!


Todo apoio aos estudantes da Unesp de Franca que expulsaram o “Príncipe”!



Nós do Conselho Diretor de Base dos Trabalhadores da USP, vimos por meio desta moção nos posicionar no mais veemente apoio ao ato realizado pelo movimento estudantil da UNESP de Franca que expulsou o monarca-ruralista Bertrand de Orleans e Bragança e o jornalista monarquista, representante da TFP, José Carlos Sepúlveda, da mesa de uma palestra organizada por um grupo coordenado pelo Diretor do Instituto, Fernando Fernandes.

Essas figuras são representantes da burguesia agrária que concentra as terras no Brasil, expulsando camponeses e exterminando trabalhadores sem-terras, quilombolas e indígenas. Como a questão da terra no Brasil está intimamente ligada à questão negra, e a sua concentração foi a principal responsável pela segregação racial, essas figuras também representam o mais podre do discurso elitista e racista. A TFP (Tradição, Família e Propriedade), a qual ambos são ligados, foi cúmplice da ditadura militar brasileira e tem em seu passado a tortura e a morte de milhares de trabalhadores e jovens que lutaram por liberdade. No seu presente, nada mudou, hoje se colocam abertamente contra os homossexuais, contra os direitos da mulher e pregam a violência doméstica.

É inadmissível que um ato que representa o eco do grito de resistência dos trabalhadores, dos camponeses, dos negros e indígenas assassinados nos campos sofra ameaça de punição. Sabemos que a Universidade Pública, hoje, é dirigida por iguais a Bertrand e Sepúlveda, tendo sua expressão máxima a Reitoria da USP dirigida por Grandino Rodas, figura exemplar da cumplicidade da Universidade com o regime ditatorial e com a ideologia reacionária e repressora. Pela luta que temos travado como parte da Comissão da Verdade da USP, para a punição dos militares e seus cúmplices civis da ditadura militar – muitos, hoje, encastelados nas Universidades Públicas –, nos colocamos contra qualquer repressão ao movimento estudantil de Franca!



Conselho Diretor de Base

Sindicato dos Trabalhadores da USP

São Paulo, 31 de agosto de 2012


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APOIO DE ESTUDANTES DA UNESP DE PRESIDENTE PRUDENTE

Camaradas, nós como Coletivo de Estudantes de Presidente Prudente, nos colocamos em apoio ao formidável ato realizado, pelo movimento estudantil de Franca, contra Bertrand e Sepulveda, que representam o fascismo que se falsifica de progresso.

Nos colocamos contra a presença da burguesia agrária e a corja ditatorial nas universidades, sendo apresentados como "príncipes". São estes os responsáveis pela desvinculação da terra de função social, uma vez que de modo perverso, objetiva maximizar o potencial produtivo, massacrando as relações sociais do campo e a quem nele resiste. São estes que retiraram os meios de produção dxs trabalhadorxs rurais e agora apoiam a opressão que  assola estes trabalhadores expulsos, que agora se concentram nos morros, favelas, periferias das cidades.

A questão dos latifúndios, que se representam pela UDR, ultrapassa o viés econômico e deve ser encarada como o ponto de inicio do racismo uma vez que a concentração de terras possui intima relação com questão étnica e de segregação racial, já que os negros foram as primeiras vítimas das desapropriações com a Lei de Terras de 1850. 

A ditadura militar se caracteriza pelo período em que a discussão da Reforma Agrária foi calada pela voz do autoritarismo e a violência para com os movimentos sociais que buscavam o acesso a terra e para os demais movimentos que se colocavam contra esse regime ditatorial. Sem a necessidade do resgate histórico para a compreensão do papel do movimento estudantil na retomada da “democracia”, nos colocamos contra os que insistem em reverenciá-la e que dessa forma respaldam ainda mais esta “nova ditadura”, que se faz de forma ainda mais eficaz meio ao burocrático e enigmático sistema judiciário contemporâneo.

Por acreditar e defender uma universidade pública de irrestrito acesso aos trabalhadorxs nos colocamos em apoio ao ato realizado pelo movimento estudantil de Franca, já que Bertrand e Sepulveda representam as perspectivas mais brutais de repressão aos trabalhadores: a UDR que os mata no campo e a Ditadura Militar que os torturaram em outrora e agora os criminaliza.

É inadmissível que tal ato apoiado em um contexto histórico tão pertinente e que possibilita o protagonismo dxs trabalhadorxs frente sua demanda intelectual e ideológica na universidade, seja alvo de repressão por parte dos estudantes que compactuam com Bertrand e Sepulveda. Na verdade este posicionamento repressivo de direita, só nos mostra como a universidade deve avançar na questão de seu acesso e sua democracia, pois continua reproduzindo posicionamentos ditatoriais fascistas já conhecidos do movimento estudantil de outras épocas,  e que continua e deve continuar a ser combatido



quarta-feira, 29 de agosto de 2012

MAIS UM CAPÍTULO DE LUTA E RESISTÊNCIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DA UNESP-FRANCA


Em 1934, militantes trotskistas e anarquistas, reunidos na frente única antifascista, conseguiram, inclusive comprometendo os militantes do PCB, organizar uma forte resistência contra o crescente avanço de grupos integralistas no Brasil. Num evento que ficou conhecido como a “revoada dos galinhas-verdes” esses militantes revolucionários conseguiram dissolver um ato dos integralistas na praça da Sé, em São Paulo, e definitivamente colocaram fim nas pretensões dessa excrescência de organização, que defendia os valores mais atrasados e obscuros.

 Depois de 78 anos, em outro contexto histórico e em outras proporções, o movimento estudantil da UNESP Franca, na melhor tradição antifascista, conseguiu organizar um grande ato-debate contra a criminalização dos movimentos sociais que reuniu cerca de 200 pessoas na universidade para repudiar a presença Bertrand de Orleans e Bragança e do jornalista José Carlos Sepúlveda, representantes de setores entusiastas do regime militar brasileiro e que pregam abertamente a violência no campo e a morte de trabalhadores rurais sem-terra. Estes senhores, que são contrários até mesmo ao projeto de emenda constitucional (PEC) contra o trabalho escravo nas grandes propriedades, vieram para a UNESP Franca a convite de um grupo conservador (CIVI) e sob a benção da burocracia acadêmica.
Em um dia que, com certeza, ficará marcado na história da UNESP-Franca, o movimento estudantil, mostrando que está ao lado dos trabalhadores, dos sem terra que lutam por reforma agrária, dos quilombolas, das mulheres, dos negros e dos homossexuais não se seduziram pelo falso discurso de “liberdade de expressão” defendido pelos conservadores. O que eles defendem não se trata de liberdade de expressão, mas sim liberdade para seguir ocupando os bancos da universidade pública para conspirar contra a própria população, para seguir despejando seus rios de preconceito, para colocar a universidade cada vez mais a serviço dos ricos e latifundiários contra os interesses da maioria da população. 

Como não poderia ser diferente, desmontando o argumento daqueles que falam de uma pretensa liberdade de expressão, a mídia, sempre tão servil aos interesses desses grupos conservadores, já começa a descarregar seu ódio e suas calúnias contra aqueles que lutam pelos interesses da população trabalhadora. Como sabemos, a mídia no Brasil é um verdadeiro monopólio da informação. Com seus recursos bilionários os grandes jornais abrem suas páginas para os conservadores, contam as histórias a seu bel prazer e caluniam todas as lutas dos trabalhadores e da juventude combativa. Isso sim, não é liberdade de expressão. Onde está o direito dos sem terra, dos quilombolas ou do movimento estudantil em se expressar nos grandes jornais? Onde está o nosso direito a contar a nossa versão da história?
Ontem, terça-feira (28/08/2012), mostramos que nossa luta, ao contrário desses novos “pintinhos verdes” do CIVI, vai para além das redes sociais. Nossa luta é cotidiana, real e incansável. Nosso ato ontem foi pelos operários sapateiros de Franca que acordam pela madrugada para se preparar para um longo e duro dia de trabalho. Nossa luta foi em defesa de nossos irmãos no campo que nas madrugadas frias ocupam terras para produzir alimento e viver dignamente. Nosso grito de repúdio foi pela liberdade para poder exercer nossa sexualidade da maneira como queremos sem ter que nos esconder. Nossa palavra de ordem é o eco do grito de resistência dos negros que lutam por sua sobrevivência há mais de quatro séculos.

A luta dessa “terça vermelha” é em homenagem a todos os heróis do povo brasileiro que tombaram. Nesse momento, lembramo-nos dos militantes tombados pela ditadura militar. Dos camponeses assassinados no massacre de eldorado dos Carajás, do massacre do Carandiru, do massacre da candelária e tantos outros genocídios contra os trabalhadores e o povo pobre que são causados por grupos e setores que hoje cinicamente falam em liberdade de expressão. 
O recado foi dado. Somos fortes. Podemos mudar a história. Nossa disposição na luta em defesa dos trabalhadores é indestrutível. Não serão alguns comentários levianos em redes sociais que irão barrar séculos de história de luta e resistência. Definitivamente podemos dizer que ontem foi escrito mais um capítulo da história de resistência e luta do movimento estudantil brasileiro. Nem um passo atrás! Os fascistas e racistas não passarão! 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

IMPORTANTE ATIVIDADE DE DISCUSSÃO SOBRE A QUESTÃO NEGRA EM FRANCA



Cerca de 40 pessoas, entre trabalhadores, figuras do hip-hop da cidade, estudantes universitários e secundaristas, compareceram na atividade construída pelo Ponto de Cultura ‘Pedra no Sapato’, pela LER-QI Franca, pelo Coletivo Angá e Juventude ‘Às Ruas’ nessa Quarta (22/08) para debater a questão negra a partir da exibição do filme “Os Panteras Negras”.
            Depois de assistir o filme, que em suas cenas resgata a organização e a resistência dos negros nas periferias norte americanas durante a década de 60 e 70, houve um entusiasmante debate com os presentes sobre as impressões do filme. Ao longo da discussão os presentes destacaram que, infelizmente, mesmo depois de tantos anos a população negra segue sofrendo com o racismo e com as condições de miséria e violência policial. Inclusive, foi lembrado o recente caso onde 44 operários negros, que estavam em greve, foram mortos pela polícia na África do Sul.
             No Brasil, os negros, sobretudo, as mulheres negras, seguem sendo os que recebem os menores salários e ocupando os empregos mais precários. Também são os negros as maiores vítimas da violência da polícia. Essa instituição à serviço dos ricos segue levando em frente um verdadeiro genocídio contra os negros e os pobres nas periferias e favelas do país. Além disso, nosso país conta com a terceira maior população carcerária do mundo, e lamentavelmente os negros seguem sendo a maioria, pois é fundamental para a burguesia branca racista manter o controle social da pobreza.

Nesse sentido, L, sapateiro e militante da LER-QI, iniciou a discussão dizendo que “o filme mostrava que a única resposta para acabar com esse sistema racista e opressor é a luta e a organização dos próprios explorados e oprimidos”. Isso fica bastante claro quando vemos o fracasso das tímidas medidas do governo brasileiro e dos partidos patronais para combater o racismo. Mesmo com essas medidas, os negros brasileiros seguem sendo exterminados pela polícia, que só no Estado de São Paulo mata cerca de 400 pessoas anualmente, seguem trabalhando em situações precárias e impedidos de entrar na universidade pública, já que, como lembraram os próprios estudantes presentes, o vestibular é um filtro social e racista que impede que os trabalhadores e povo pobre, que são os que justamente mantêm a universidade com seus impostos, possam desfrutar de um ensino superior de qualidade.
            Por isso mesmo, Thiagão, militante da LER-QI e do movimento negro, ressaltou “a importância da independência de classe na luta dos negros”. Ou seja, a povo negro não deve confiar nos partidos e organizações da burguesia e no Estado capitalista para combater o racismo. Apenas a auto-organização dos próprios negros, aliado aos trabalhadores brancos e ao conjunto do povo pobre, pode dar uma resposta a esse sistema que só nos reserva miséria e repressão.

O debate ainda contou com a participação e a intervenção direta de muitos jovens e trabalhadores que, em geral, destacaram a importância da atividade e principalmente a necessidade de procurar cada vez mais estudar a nossa própria história, que, apesar da burguesia fazer de tudo para que esqueçamos, é repleta de exemplos de resistência contra a opressão e a exploração. Justamente por isso, Dú, do ponto de cultura pedra no sapato, fez questão de resgatar sinteticamente a história do Hip e Hop e principalmente falar da importância dos próprios Panteras Negras na formação do movimento.  Ao final, todos saíram com a vontade de repetir a experiência da atividade e conseguir alcançar cada vez mais um número maior de pessoas. Mostrando aos jovens e aos trabalhadores de Franca que podemos sim nos organizar e lutar contra a violência dos patrões, do Estado e de sua polícia racista.


terça-feira, 7 de agosto de 2012

NA ARGENTINA: JULGAMENTO DOS ASSASSINOS DO JOVEM MILITANTE MARIANO FERREIRA


Começou ontem, 6 de agosto de 2012, o julgamento dos assassinos de Mariano Ferreira, jovem argentino e militante do Partido Operário, morto a tiros, no dia 20 de outubro de 2010, por um grupo de “bate-paus”  à serviço de Pedraza,  burocrata dirigente do sindicato dos ferroviários de Buenos Aire que, com a ajuda da polícia e da empresa que controla o sistema ferroviário da Capital argentina, tentava impedir a mobilização dos trabalhadores ferroviários pela efetivação dos seus colegas terceirizados, com igual salário e direitos. Esses malditos burocratas, fiéis escudeiros da burguesia argentina, tiraram a vida de Mariano por que este estava defendendo o fim do trabalho precário.
Assim como no Brasil, onde a Burocracia da CUT, CTB e Força Sindical cumprem o papel de desmobilizar, dividir e impedir que os trabalhadores saiam a lutar de maneira combativa e independente por salários e direitos, a máfia sindical argentina, que controla a maior parte dos sindicatos no país vizinho, é parte fundamental nos negócios sujos que envolvem a contratação de mão-de-obra terceirizada. Muitos desses sindicalistas de carreira, ligados por mil laços políticos com o governo de Cristina Kirchner, são os próprios donos de empresas que oferecem serviços terceirizados, onde, é claro, os trabalhadores não têm qualquer direito e trabalham em situações extremamente precárias. Isso é o que explica a fúria com que esses mafiosos atacaram Mariano e todos os trabalhadores e jovens que denunciavam a precarização do trabalho.
Como aponta os camaradas do Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS), organização irmã da LER-QI na Argentina, a morte de Mariano é um verdadeiro crime político contra toda a classe operária. Ao alvejar Mariano não apenas tiraram a vida dele como atacaram o conjunto da classe trabalhadora que luta contra um dos mecanismos mais perversos do neoliberalismo que faz com que milhões de trabalhadores vivam em situação de miséria e extrema exploração. Por isso, desde o dia do assassinato de Mariano, o PTS colocou todo seu peso militante no movimento estudantil e operário para denunciar esse crime político, como foi o importante feito de realizar paralisações e cortes de rua levada à cabo pelos trabalhadores da empresa Kraft sob a direção de sua comissão de interna (dirigida por operários do PTS e independentes). Ontem, durante a mobilização convocado pelo Partido operário (P.O) em frente ao tribunal, não foi diferente, milhares de jovens e trabalhadores do PTS se somaram à outros grupos políticos e de direitos humanos para exigir punição aos burocratas assassinos: 
“No dia 6 de Agosto nos mobilizamos para exigir a prisão de Pedraza e sua máfia, pela punição a todos os responsáveis materiais, intelectual e cúmplices do assassinato de Mariano Ferreira. Além disso, a luta se liga com um dos maiores desafios que temos daqui para frente: Expulsar a burocracia sindical e recuperar os sindicatos para a luta de classes. Contra a burocracia, hoje dividida em cinco Centrais sindicais, contra os dirigentes que dividem os trabalhadores e estão com os políticos da patronal, seja Kirchner, Sciolli ou Binner, é preciso levantar uma alternativa: reunir todo o ativismo combativo em uma assembleia nacional de trabalhadores classistas.” (Editorial do Jornal La verdad Obrera nº 486, semanário do PTS).

Os estudantes e trabalhadores do Brasil que lutamos diariamente contra a precarização do trabalho e pela unidade das fileiras da classe trabalhadora através de uma luta implacável contra a terceirização e que, sobretudo, assim como Mariano, dedicamos nossas vidas para que os trabalhadores tomem o destino de suas vidas em suas próprias mãos e ponha abaixo esse podre sistema capitalista, nos somamos a todos aqueles que lutam pela punição aos assassinos de Mariano. Temos a certeza que sua morte não será em vão.

Mariano Ferreira presente!Punição à burocracia sindical assassina e a todos os cumplices!



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A VIOLÊNCIA POLICIAL E A LUTA CONTRA A REPRESSÃO NA USP



Há nove meses os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) protagonizavam uma dura luta, que envolveu grandes atos, ocupações e greve, cujo objetivo era impedir a presença da polícia militar nas dependências da universidade e acabar com a política repressiva e persecutória do reitor João Grandino Rodas. Nesse momento, uma parte importante do movimento estudantil da USP, consciente que a polícia leva a frente um verdadeiro genocídio contra a população pobre e negra, tomou para si a consigna: “Fora polícia da USP, das favelas e das periferias”. 
Durante a mobilização dos estudantes, que contou com forte apoio do Sindicato dos trabalhadores da USP (SINTUSP), a imprensa burguesa, porta voz do governo paulista e da reitoria da USP, levou a frente uma feroz campanha contra os estudantes que lutavam contra a presença da polícia, tentando mostrá-los como um “pequeno grupo de pessoas que desejavam ter alguns privilégios”. O Governo do PSDB, a Reitoria e a mídia pretendiam, dessa forma, jogar a opinião pública contra os estudantes garantindo que estes ficassem isolados em sua luta. Para isso foi montado toda uma ficção que mostrava a polícia como defensora da integridade dos alunos em face de um suposto “clima” de insegurança que a reitoria, e lamentavelmente parte das direções do movimento estudantil, fazia questão de propagar. Tentavam, desse modo, omitir o necessário debate de que a polícia - que na USP é parte dos instrumentais repressivos do Reitor para efetivar seu plano de privatização da universidade - tortura, prende e assassina centenas de pessoas por ano só no Estado de São Paulo.

Quase um ano depois dessa grande luta levada a frente pelos estudantes da USP, cujo saldo foi a prisão de 73 pessoas e processos administrativos em curso com o objetivo de expulsar estudantes e demitir funcionários, assistimos a uma escalada sem precedentes da violência policial no Estado de São Paulo. Segundo dados da própria Ouvidoria da Polícia 36 pessoas foram mortas por mês pela PM entre fevereiro e abril de 2012. Em maio, o índice saltou para 52 casos (alta de 44%). O batalhão da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a unidade de elite da polícia paulista criada nos anos mais sombrios da ditadura, aumentou seu índice de letalidade em 78% em um período aproximado de cinco anos, entre 2007 e 2011. A Rota matou 46 pessoas que teriam resistido à prisão em 2007. Nos anos seguintes o número foi se elevando até atingir 82 em 2011. Nesse ano, em apenas um caso, a Rota assassinou seis pessoas na zona leste de São Paulo.
Durante o mês de junho de 2012 os dados já apontavam dezenas de jovens mortos pela polícia. Há, inclusive, relatos de vários toques de recolher realizados pela polícia em alguns bairros da periferia. A população foi impedida de sair das suas casas pelos policiais. Esses dados, que nos últimos meses estiveram mais altos do que nunca, apenas mostram uma parte (ao que tudo indica o número de mortes e torturas causadas pela PM é bem maior do que os dados oficiais) do cotidiano dessa instituição. E mais, segundo recente pesquisa do instituto “sou da paz” 93% das mortes causadas pela polícia ocorrem na periferia (!). Fica mais do que claro que são os trabalhadores, sobretudo os mais pobres e precarizados que moram nos bairros periféricos, os que mais sofrem com a brutal violência da polícia. Ainda assim, até mesmo setores da classe média alta tem sido vítima da violência policial dos últimos dias, como foi o caso do publicitário Ricardo Aquino, que foi morto com dois tiros à queima roupa pela polícia paulista. 
Se tais números são assustadores e causam indignação a qualquer pessoa que defenda as liberdades democráticas e os princípios mais elementares dos direitos humanos, mais escandaloso ainda é o fato de que ainda hoje há 73 estudantes e trabalhadores processados por lutar contra a presença dessa instituição repressiva dentro do campus. Inclusive dirigentes sindicais, como a diretora do SINTUSP e dirigente da LER-QI Diana Assunção, estão sofrendo ameaças de demissão através de um obscuro e parcial processo administrativo cuja principal denúncia é baseada em um Decreto que foi redigido e outorgado em pleno regime militar.

Os recentes fatos que expõe a violência e corrupção da polícia militar do Estado de São Paulo mostram como a luta dos estudantes da USP para acabar com o convênio da universidade com a polícia era correta e necessária. Já a reitoria da USP, ao contrário, deseja que esta polícia, com a extensa lista de crimes que expomos a cima, esteja diariamente no campus para intimidar o movimento estudantil que luta por uma universidade aberta, democrática e para todos. Mais do que nunca, tendo em vista que os processos administrativos devem se encerrar em um curto prazo de tempo, é preciso redobrar a força na campanha contra a repressão aos estudantes e funcionários da USP, exigindo o fim imediato dos processos, e denunciar em alto e bom som os burocratas acadêmicos que querem a polícia militar assassina dentro da USP.