Há
muito tempo os setores patronais clamam por mudanças na legislação trabalhista.
Exigem do governo medidas para reduzir “os custos” da mão de obra e, desse
modo, manter suas altas taxas de lucro. Para o empresariado brasileiro os
mínimos direitos trabalhistas, sejam aqueles previstos na Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT) ou os da própria Constituição Federal, passaram a ser grandes
obstáculos na sua busca por lucros cada vez maiores. Essa necessidade de
liquidar os direitos trabalhistas é o que explica o surgimento do projeto de
lei que prevê o “Acordo Coletivo Especial” – o ACE.
O
projeto de lei que traz a proposta do ACE é de autoria do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC e tem o apoio da direção nacional da Central Única dos
Trabalhadores (CUT). Trata-se, na realidade, da regulamentação de acordos
coletivos que poderão reduzir direitos e garantias dos trabalhadores. O
Objetivo do ACE é garantir a chamada “segurança jurídica” para aqueles acordos
que preveem redução de direitos. Os grandes empresários, evidentemente, estão
festejando a proposta do ACE, pois vêem nele a grande possibilidade de fechar
acordos coletivos que reduzirão os direitos a patamares abaixo do previsto pela
própria lei. O raciocínio dos
empresários é simples: se ainda não há condições políticas de acabar
diretamente com as leis trabalhistas através de uma ampla reforma, então irão
impor, com o auxílio da burocracia sindical, acordos por “fora da lei” para
reduzir ou suprimir direitos históricos da classe que vive do trabalho.
O
Governo Dilma, apesar dos slogans e discursos em favor do povo, na prática,
apóia, incentiva e promove todas essas medidas de redução de direitos. Na
avaliação do Governo o ACE, assim como as terceirizações e outras medidas de
precarização das relações de trabalho, poderá contribuir para a redução do
“custo” da mão de obra possibilitando, dessa forma, a manutenção das altíssimas
taxas de lucros dos empresários brasileiros. Essa receita vem sendo aplicada
rigorosamente nos canteiros das grandes obras do PAC e dos estádios para a Copa
e Olimpíadas. Os operários dessas obras são obrigados a trabalhar em extensas
jornadas de trabalho, com atrasos de salários, sem descanso e visitas à família
e sem equipamentos de segurança. Não há dúvida que o ACE visa expandir essa
precarização para outras categorias e também aos servidores públicos. O governo
apóia o Acordo Coletivo Especial (ACE), pois sabe que ao abrir as portas para a
“flexibilização” dos direitos trabalhistas o acordo torna-se o principal
instrumento para uma permanente precarização das relações de trabalho. E no
vocabulário da patronal “precarização das condições de trabalho” significa
altos rendimentos para suas respectivas empresas.
Mas afinal, o ACE é ou não uma
ameaça aos direitos dos trabalhadores?
A
direção nacional da CUT publicou algumas notas para tentar convencer os
trabalhadores de que o ACE não significa o fim de direitos. Segundo a CUT, a
redação do projeto veda expressamente a retirada dos direitos previstos pelo
art. 7º da Constituição Federal, dispositivo legal que assegura os principais
direitos trabalhistas. Entretanto, como podemos notar, a própria direção da CUT
admite abertamente que, com o ACE, os direitos trabalhistas previstos em outras
legislações e instrumentos (como direitos previstos na CLT, decretos,
regulamentos e portarias) poderão ser suprimidos, pois nem todos os direitos
trabalhistas estão previstos no célebre art. 7º da CF. O ACE, a título de
exemplo, poderia levar a diminuição do horário de almoço ou acabar com a
necessidade de alguns equipamentos de segurança. Além disso, os defensores do
ACE estão dando a oportunidade histórica para os políticos patronais enfim
alcançarem seus objetivos de liquidar os principais direitos sociais, inclusive
até mesmo os previstos na Constituição. A relação entre o ACE e a “flexibilização”
dos direitos é tão profunda que no dia 02 de Agosto de 2012 o jornal “O Estado
de São Paulo”, cuja linha editorial é fervorosa defensora da “flexibilização”
dos direitos trabalhistas, expressou, através de um de seus colunistas, sua
satisfação com o ACE:
“Bons ventos sopram em direção à
flexibilização da legislação trabalhista, caso seja aprovado o Acordo Coletivo
Especial (ACE).”
Nem
mesmo a direção da CUT consegue explicar como o ACE não é um projeto de “flexibilização”
e retirada de direitos se até mesmo o principal porta-voz do empresariado
paulista e o mais ferrenho defensor da reforma trabalhista está favorável ao
ACE.
Falsos argumentos para justificar a
retirada dos direitos!
Os
defensores do ACE argumentam que, como a legislação é arcaica e ultrapassada,
ela impede a aprovação de acordos mais favoráveis aos trabalhadores. O ACE,
desse modo, facilitaria acordos benéficos aos trabalhadores. Entretanto, esse
argumento é falso do inicio ao fim!
O
entendimento de que a atual legislação trabalhista não proíbe acordos mais
favoráveis aos trabalhadores é unânime entre todos os juristas da área do
Direito do Trabalho. Advogados, juízes trabalhistas e estudiosos concordam que
não há qualquer restrição na atual legislação para que se realizem convenções e
acordos coletivos mais favoráveis do que o estipulado em lei. Esse também é o
entendimento de dezenas de operadores do Direito que assinam o “manifesto de
juristas contra o ACE”:
“Dizem os autores do projeto que não almejam a redução
dos direitos dos trabalhadores, pretendendo, apenas, incentivar a autonomia
negocial. No entanto, a autonomia negocial, para melhorar as condições sociais
dos trabalhadores, nunca deixou de existir. A negociação com este objetivo,
aliás, sempre foi incentivada pelo Direito do Trabalho, desde a sua formação. O
projeto, portanto, se nada acrescenta neste aspecto, só pode servir mesmo para
conferir a possibilidade de se reduzirem direitos (...)”
Desse
modo, fica muito claro o real objetivo do Governo Federal e da direção da CUT.
Trata-se de resgatar antigas propostas de “flexibilização” dos direitos
trabalhistas outrora defendidas pela velha oposição conservadora (PSDB, DEM e
PPS), mas com uma nova roupagem. Dessa vez, se utilizam do próprio aparato
sindical para promover uma medida que não trará benefício algum aos
trabalhadores brasileiros. Os trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão,
mais uma vez, chamados a irem às ruas para lutarem por seus direitos.
MARCHA A BRASÍLIA SERÁ ESPAÇO DE
RESISTÊNCIA CONTRA A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E A RETIRADA DE DIREITOS.
A
resposta do movimento operário e popular deve estar à altura dos ataques. Os trabalhadores,
através de seus sindicatos, centrais e federações, devem discutir a gravidade
do projeto que aplica o ACE. É preciso organizar uma luta nacional que una
distintas categorias e setores para lutar contra tais propostas. Por isso,
achamos extremamente importante a iniciativa da CSP-Conlutas em construir uma
grande Marcha a Brasília no dia 24 de Abril com destaque na luta contra o ACE.
A Marcha, que pretende reunir dezenas de milhares de trabalhadores e jovens, já
conta com a adesão de inúmeros sindicatos, movimentos populares, estudantis e
sociais, como a FERAESP, o ANDES, a ANEL e o MST. Também é muito importante que
setores da própria CUT, como o coletivo “A CUT pode mais” estejam engrossando a
Marcha, pois amplia a nossa luta e evidencia ainda mais a gravidade dos ataques
que estão sendo preparados pelo Governo Federal.
Acreditamos
que seja muito importante que mais sindicatos, organizações estudantis e
movimentos sociais se juntem à construção da Marcha. As entidades que
representam os setores progressivos de direitos humanos, advogados e juízes
trabalhistas críticos ao ACE também estão convidadas a se somar a essa luta.
Os
direitos trabalhistas que temos hoje foram conquistados nas ruas com a luta da
classe trabalhadora. Para que não os tirem de nós deveremos retomar o caminho
da luta e da mobilização. Todos à Marcha a Brasília.